Israel inicia incursão terrestre na Cidade de Gaza e ameaça 1 milhão de civis

Após a operação, aprovada em agosto, ONU denunciou prédios bombardeados e alerta que não há lugar seguro diante da crise humanitária; EUA dão apoio.

Fumaça sobe após bombardeios israelenses atingirem a Cidade de Gaza nesta terça-feira (16), no primeiro dia da ofensiva terrestre para ocupar a capital do enclave. Foto: Reprodução

 

O Exército de Israel anunciou nesta terça-feira (16) o início da incursão terrestre na Cidade de Gaza. A operação já havia sido aprovada pelo gabinete de segurança em agosto como parte de um plano para ocupar a maior área urbana da Faixa, classificada por Tel Aviv como um dos últimos redutos do Hamas.

A decisão consolida a estratégia de avançar para além dos ataques aéreos que devastaram a capital do enclave nas últimas semanas. Dois oficiais israelenses confirmaram à rede CNN que a incursão começou na manhã de terça, descrevendo a ação como “faseada e gradual” em sua etapa inicial.

Horas depois, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel em árabe, Avichay Adraee, oficializou a expansão da ofensiva em publicação no X, afirmando que Cidade de Gaza é “uma zona de combate perigosa” e instruindo a população a deixar a região em direção ao sul.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que o país atravessa “uma etapa crítica desta luta” e confirmou que “iniciamos ontem uma operação intensa em Gaza”, em fala dada no tribunal onde responde por acusações de corrupção. 

O ministro da Defesa, Israel Katz, adotou tom vangloriando, dizendo que “Gaza está em chamas” e que as tropas israelenses “atingem com punho de ferro a infraestrutura terrorista”.

Autoridades israelenses admitem que a ofensiva tem como alvo um contingente pequeno do Hamas em comparação com a população civil da cidade. 

Estimativas do próprio Exército apontam entre 2.000 e 3.000 combatentes na região, menos de 1% dos moradores. Antes da guerra, a cidade abrigava cerca de 1 milhão de pessoas, agora submetidas a ordens de evacuação sob bombardeios contínuos.

Nos últimos dias, em preparação para o início da ofensiva, pelo menos dez prédios da ONU foram atingidos, segundo a agência para refugiados palestinos (UNRWA). Entre as estruturas danificadas estão sete escolas e duas clínicas usadas como abrigos para milhares de deslocados. 

A UNRWA afirmou que três de suas escolas foram bombardeadas no campo de refugiados de al-Shati no sábado (13). “Não há lugar seguro em Gaza”, disse o comissário-geral Philippe Lazzarini.

Após dias de ataques contra edifícios altos em Gaza, o Exército intensificou os bombardeios durante a madrugada de segunda para terça. Moradores relataram disparos de artilharia no bairro de Sheikh Radwan, no noroeste da cidade, e ataques também em Deir al-Balah e outras áreas do centro da Faixa.

O Hospital Shifa recebeu os corpos de 20 pessoas mortas em um ataque que destruiu casas em um bairro do oeste da cidade e atendeu outros 90 feridos nas últimas horas. Médicos alertaram que ainda há corpos sob os escombros. Autoridades de saúde de Gaza estimam ao menos 14 mortos e mais de 40 feridos em ataques registrados antes mesmo do início formal da incursão terrestre.

Vídeos obtidos por agências internacionais mostram crianças entre as vítimas, retiradas dos escombros por familiares e levadas a hospitais em mortalhas brancas.

Organizações internacionais confirmam que o deslocamento em massa segue em ritmo acelerado. 

A ONU calcula que 220 mil pessoas tenham deixado o norte da Faixa no último mês, enquanto o Exército de Israel fala em 320 mil deslocados desde que os avisos de retirada foram emitidos. 

O número total de mortos desde o início da guerra subiu para 64.871, de acordo com o ministério da Saúde do território. Quase metade são mulheres e crianças. 

Disputas internas e apoio dos EUA marcam avanço da ofensiva

A ordem de evacuação da Cidade de Gaza expôs uma divisão entre autoridades militares e jurídicas em Israel. Segundo o jornal israelense Haaretz, a procuradora militar-chefe, Yifat Tomer-Yerushalmi, enviou um parecer ao chefe do Estado-Maior, Ayal Zamir, advertindo que não era possível afirmar a legalidade do deslocamento forçado da população sem condições adequadas para recebê-la no sul da Faixa. 

Dias depois, Zamir desconsiderou a recomendação. Ele convocou uma reunião com o comandante do Comando Sul, Yaniv Asor, e com o coordenador de operações nos territórios, Rasan Alyan, e decidiu pela evacuação total da cidade sem informar a procuradora.

Os militares israelenses e o governo Netanyahu têm o respaldo da Casa Branca. Nesta segunda-feira (15), Marco Rubio se reuniu com o premiê israelense em Jerusalém antes de seguir para Doha, no Qatar. 

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, durante entrevista coletiva em Jerusalém nesta segunda-feira (15). O encontro ocorreu um dia antes do anúncio da ofensiva terrestre contra a Cidade de Gaza. Foto: Reprodução/ Embaixada EUA em Israel

O secretário de Estado afirmou que o tempo para negociar um acordo é limitado, dando a entender que a administração Trump tinha dado o aval da operçaão. 

“Acreditamos que temos uma janela de tempo muito curta para que um acordo seja alcançado. Não temos mais meses, provavelmente dias ou algumas semanas, portanto este é um momento-chave – um momento importante”, afirmou. 

Ele disse que a prioridade dos EUA é uma saída negociada, mas advertiu que “a única coisa pior que uma guerra é uma guerra prolongada que nunca acaba” e acrescentou que “em algum momento, o Hamas precisa ser desarmado”.

Mais tarde, também na segunda-feira, Donald Trump escreveu nas redes sociais que o Hamas estaria transferindo reféns para a superfície a fim de usá-los como escudos humanos contra ataques israelenses. 

O presidente classificou a prática como uma “atrocidade humana” e declarou: “Não deixem isso acontecer, ou tudo estará em aberto.” O Hamas respondeu que as declarações representavam “viés escancarado em favor da propaganda sionista” e afirmou que o destino dos sequestrados depende do governo Netanyahu.

O Hamas rejeitou as acusações e afirmou que Trump reproduzia “um viés escancarado em favor da propaganda sionista”. O grupo disse que não está utilizando reféns como escudos humanos e responsabilizou diretamente o governo Netanyahu pela situação. 

A facção acrescentou que a destruição em Gaza ameaça também a vida dos sequestrados, cujo destino, segundo o movimento, é determinado pelas ações militares de Israel.

Poucas horas antes da confirmação da ofensiva terrestre, o analista militar Cedric Leighton, coronel aposentado da Força Aérea dos EUA, disse à CNN que seria “um milagre” se os reféns sobrevivessem à operação. 

Ele avaliou que o tipo de força empregado por Israel é “muito bruto, é força bruta”, e que as tropas “terão de avançar entre os escombros e percorrer túneis ainda controlados pelo Hamas”, o que aumenta o risco de mortes entre os sequestrados.

Familiares de reféns protestam em frente à residência oficial de Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, na madrugada desta terça-feira (16), pedindo a suspensão da ofensiva em Gaza. Foto: Reprodução/ Jerusalem Post

Na madrugada de terça-feira (16), famílias de reféns protestaram em frente à residência oficial de Netanyahu em Jerusalém. 

Algumas montaram barracas e passaram a noite no local. Einav Zangauker, mãe de Matan, um dos sequestrados, disse que “tenho um interesse – que este país acorde e traga meu filho de volta junto com outros 47 reféns, vivos e mortos, e que traga nossos soldados de volta para casa”. 

Ela acusou o premiê de sacrificar reféns e militares ao prosseguir com a ofensiva. “Se ele não parar por nada ele não é um primeiro-ministro digno”, disse. 

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos alertou que a escalada militar “pode ser a última noite de vida dos reféns”.

 

Fonte: https://vermelho.org.br/

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